sábado, 27 de março de 2010

A margem esquerda: Itaqui-Bacanga

A ocupação do Pólo Itaqui-Bacanga começa a consolidar-se a partir da implantação do loteamento Anjo da Guarda, em 1968, para onde foram remanejadas as famílias desabrigadas no incêndio do Goiabal, no Centro, e do Sítio Santa Quinta, nas margens do Rio Bacanga, e da abertura da Avenida dos Portugueses, após a construção da Barragem do Bacanga em 1970. Com a implantação do Distrito Industrial, ocorre uma grande atração de migrantes da zona rural da ilha e do interior do Estado, que vão se alojando das áreas altas para os baixos, até as áreas molhadas e sujeitas a inundações.

Hoje, a comunidade do Pólo Itaqui-Bacanga divide o território com grandes áreas institucionais (UFMA), industriais (VALE, EMAP) e áreas de proteção ambiental, nos mangues que limitam a ocupação. É importante considerar, portanto, a qualidade destas relações que podem constituir fronteiras vivas, em regiões ou faixas de territórios capazes de potencializar o intercâmbio econômico, de informações e atividades.

A redefinição dos limites físicos da UFMA, que nos últimos anos perdeu 60% de seu território para as comunidades contíguas, é uma evidência concreta da importância das relações de fronteira na região. Nestas zonas de fronteiras percebemos a interdependência entre a cidade formal e informal, e a possibilidade de cooperação para a superação de conflitos.

Um vetor importante de qualidade de um assentamento urbano é a acessibilidade com relação a outras áreas da cidade. Analisando o sistema viário da região a partir do nível de conectividade das vias – número de conexões de cada rua – constata-se o maior grau de segregação espacial verificado na cidade. Do mesmo modo, a dimensão de becos e vielas, escadarias inadequadas, um traçado urbano confuso ou limitado, a falta de endereçamento e a inexistência ou precariedade dos espaços de uso público, dificultam a vida comunitária. Ou seja, a localização na cidade, a ausência de infra-estrutura e de serviços urbanos assim como a forma urbana do assentamento expressam e provocam injustiça social.

Por outro lado, além da proximidade com a área industrial, as ligações com a zona rural (Vila Maranhão) e com o Centro Histórico aumentam o potencial econômico da região. A Barragem do Bacanga, único acesso por terra desde a área urbana central, tem papel fundamental para os transportes e pode favorecer o desenvolvimento de atividades econômicas. 

Outra potencialidade da região é a existência de lideranças comunitárias organizadas e redes de agentes e serviços sociais reconhecidas. Ademais, vínculos familiares e comunitários fortes, decorrentes de uma relativa estabilidade da população, contribuem para a superação de dificuldades, problemas e conflitos locais.

Manifestações e eventos culturais de porte, como a encenação da Paixão de Cristo, que mobiliza toda a comunidade do bairro do Anjo da Guarda e entorno em atividade da cadeia de produção teatral (elaboração de projeto, construção de cenários, iluminação, figurino, etc.), demonstram a riqueza e complexidade da vida comunitária local e suas potencialidades.

Atualmente, com o crescimento vegetativo da população e a atração de novos moradores – que seguem fazendo pressão sobre o ecossistema de mangues, nas áreas baixas – a região está chegando ao limite de sua densificação, com aproximadamente 200 hab/ha, intensificando as tendências de verticalização de baixo padrão e expansão para áreas protegidas.

A existência de escolas e hospitais municipais, pequenas intervenções urbanas em espaços públicos, obras de contenção de encostas, programas regulares de assistência social e saúde, além do incremento dos serviços de limpeza pública e iluminação na região, são evidências da presença do Poder Público na área.  Assim, o Poder Público tenta ordenar e equipar o espaço urbano, seguindo a reboque dos processos locais de produção do espaço, sem, no entanto, garantir a distribuição equitativa de infra-estruturas e a qualidade do desenho e da construção dos poucos espaços públicos existentes.

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