sábado, 27 de março de 2010

A margem direita: Coroadinho

 O conjunto de bairros e assentamentos conhecido como Pólo Coroadinho, consolidou-se a partir de ocupações que ocorreram em contextos e épocas diferentes. Em torno dos primeiros assentamentos espontâneos (Coroadinho), surgiram conjuntos habitacionais para baixa renda, os primeiros espaços institucionais, conjuntos residenciais de classe média e loteamentos sem infra-estrutura. Planejadas ou não, estas ocupações assumiram diferentes formas, com soluções e problemas diversos.

Hoje, o Pólo Coroadinho apresenta grande heterogeneidade interna, com uma multiplicidade de lugares que definem setores distintos, por suas características espaciais, sócio-econômicas e pela diversidade de usos que apresentam. Todos esses setores e diferentes bairros da região sofrem os impactos de uma série de problemas relacionados à ocupação irregular de áreas de risco e de proteção ambiental.

A dificuldade de urbanização de áreas baixas, liberadas pela construção da Barragem do Bacanga, exigiu a construção de canais de drenagem que, por falta de fiscalização e manutenção, foram progressivamente ocupados por habitações precárias. O funcionamento deficiente dos canais potencializa os riscos de alagamentos e propagação de doenças infecto-contagiosas.

A ocupação irregular da faixa de segurança da linha de alta tensão da ELETRONORTE, revela aspectos importantes da dinâmica de ocupação daquela área. Por um lado, revela a existência de um mercado paralelo de imóveis para baixíssima renda numa evidência de que o território não é mero local de sobrevivência, mas constitui, ele próprio, mercadoria valiosa. Por outro lado, o "linhão" da ELETRONORTE define um dos limites do Parque Estadual do Bacanga, que também sofre com a pressão da ocupação irregular.

Em outro processo de interação com o meio geofísico, verifica-se a desvalorização das residências formais no entorno das voçorocas, focos permanentes de acidentes. O processo natural de desmoronamento é agravado pela prática de retirada constante de terra para construção e outros fins. São construtoras, comerciantes e carroceiros que, em diferentes escalas, exploram essa atividade extrativista ilegal.

Aos problemas e soluções relacionadas à história da ocupação do território, sobrepõe-se a qualidade do papel que o Estado desempenhou, em sua ação de polícia e no gerenciamento da produção deste espaço. Assim, encontramos no Pólo Coroadinho uma rede social e de espaços públicos consolidados, co-existindo com problemas de violência urbana que volta e meia explodem em brigas de gangues e ocorrências graves. A imagem do Coroadinho como espaço de insegurança e medo tem sido reforçada pela mídia e apropriada pelo imaginário social.

A violência urbana, refletindo-se na imagem do lugar intensifica a segregação sócio-espacial e a perda de dinamismo da economia e da vida urbana. Na base deste ambiente de insegurança pública parece existir a dificuldade da máquina estatal em lidar com situações de informalidade (na economia e na cidade), dificuldade que precisa ser enfrentada pelo projeto urbano.

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